quarta-feira, 2 de março de 2011

Senhora da vida


Sou filho da viagem e da estrada,
Do sal atlântico que rasga as gretas no pasmo arenado do nosso impreparo.
Em todas as terras vi.
E de todas as fontes ouvi o chilrear de cantos antigos, e lhes bebi a minha essência gémea.

Sou filho das feridas profundas,
Do rúbro grito que abraçou o estilete de granito em queda, e o marcou como marcado eu era.
De toda a luz me fiz.
E a todas as eras perguntei por esta vontade, respondendo-me na expressão cérea do tempo a imortalidade.

Sou filho da terra.
Regresso-te, recolho-me e me acouto no teu colo, e na osmose do ritual que compomos não se tresmalham as almas destes corpos nómadas.
De todos os deuses te quis.
E a todas as fronteiras lançarei o impulso fértil, a celebração da tua maternidade, até em riste expirar.

Na rosa dos ventos de uma consciência tão vasta, como vasto é o nosso alcance, deixo-me fluir,
Pois em cada átomo e em cada vontade que te ofereço, em todo o sopro vital que me sustenta, encontro-te.
E em nenhum me perco, porque no fim, como no princípio, percorrida a nossa história em todas as eras, és em minha vida meu querer,
E na tua sou eu minha entrega.




Rui Santos Silva
Porto, 16 de Agosto de 2009